CONAE 2010

28/07/2010 09:17

 

O que pode mudar na educação a partir de 2011


Durante a programação de hoje, 
vamos falar sobre os resultados de um evento muito importante: a Conferência Nacional da Educação (Conae) (1)A Conae reuniu este ano, em Brasília, representantes do governo, secretários de educação, estudantes, diretores de escola, representantes de associações, pais e mães de alunos para traçar os rumos da educação brasileira.

Ao final do encontro foram aprovadas 677 propostas de políticas públicas reunidas no documento final da Conae. O documento servirá de base para a elaboração do próximo Plano Nacional de Educação (PNE), que vai valer para o período de 2011 a 2020. A vigência do atual PNE, lei que traça as metas para a educação no Brasil, termina neste ano. O documento final da Conferência pode ser encontrado na página eletrônicawww.todospelaeducacao.org.br. Basta clicar no link “biblioteca” e fazer uma busca pela palavra chave “Conae”. Também está publicado no endereçoconae.mec.gov.br.

(1) A Conae reuniu cerca de três mil pessoas em Brasília no período de 28 de março a 1º de abril. Antes dessa Conferência, houve conferências municipais e estaduais preparatórias para encontro nacional. No fim, aConae envolveu direta e indiretamente 3 milhões e meio de pessoas.

 

Logo Conae

Documento final da Conae traz 677 propostas para a Educação


O resultado final da Conae é considerado
um marco para a construção do novo Plano Nacional de Educação, o PNE. A União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime), que fez parte da comissão organizadora da Conae, considerou o encontro positivo. Na opinião da Undime, o conjunto de propostas aprovadas durante a Conferência Nacional de Educação aponta para a ampliação do acesso dos brasileiros, principalmente os mais pobres, à educação pública.

A garantia de recursos para ampliar o acesso à educação está entre as propostas aprovadas pela Conferência. Em 2008, 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas do País, foi para a educação. A Conae aprovou que esse percentual aumente para, no mínimo, 7% já no ano que vem. Em 2014, a intenção é que o índice chegue a, pelo menos, 10%. Os recursos seriam investidos, por exemplo, na construção, reforma e ampliação de escolas, além de pagamento de pessoal. A Conae propôs ainda o aumento da oferta de vagas em 50% até 2010 e que todos os meninos e meninas estejam na escola de educação integral até 2016. 

Em 2008, 97,9% dos meninos e meninas (2) de 7 a 14 anos estavam matriculados na escola. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que indica um crescimento do percentual de crianças matriculadas, mas os 2,1% restantes representam 570 mil crianças e adolescentes que ainda estão fora das salas de aula. Além disso, estar na escola não significa necessariamente ter educação de qualidade. De acordo com o relatório Situação da Infância Brasileira 2009, do UNICEF, três características definem educação de qualidade: integral, contextualizada e com atenção individualizada (2).

(2) A educação integral favorece o desenvolvimento das crianças ao oferecer mais oportunidades de aprendizado, de ampliação da cultura, principalmente em regiões mais carentes.
Educação contextualizadasignifica que ela considera a realidade das pessoas, do lugar, da cultura e das relações sociais onde se desenvolvem as ações educativas.
E a atenção individualizadaimplica reconhecer cada criança
como única, respeitar o seu tempo de aprendizado, valorizar o seu conhecimento e, ainda, apoiá-la no enfrentamento dos desafios.

 

Jovens querem ter voz

A melhoria das condições de trabalho do professor é uma das preocupações.

Júlio César Paes/MEC

O documento final da Conae, que servirá de base para o novo Plano Nacional da Educação, utiliza vários dados que justificam as propostas relacionadas com a ampliação do acesso à educação. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, por exemplo, cerca de 14 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever, e os índices de analfabetismo da área rural são cinco vezes maiores que os da zona urbana.

Quando se compara o acesso de brancos e negros, também há desigualdades: ainda de acordo com a PNAD 2008, a média de anos de estudo da população branca acima dos 15 anos é de 8,3 anos; da população negra, de 6,5. Assim, as propostas aprovadas pela Conferência Nacional de Educação visam não apenas ampliar, mas também democratizar o acesso às salas de aula, o que significa oferecer educação a todos, independentemente de raça, origem ou renda. 

A ampliação do acesso à escola e a qualidade da educação passam pela valorização do professor. Como a melhor maneira de valorizar quem ensina é oferecer oportunidades de formação, uma das propostas da Conferência Nacional de Educação, a Conae, foi que o professor possa se afastar do trabalho a cada sete anos para se dedicar aos estudos, sem prejuízo da remuneração. Além disso, o professor e demais trabalhadores em educação que fizerem especialização devem ter a jornada reduzida durante o período do curso. Se o professor for estudante de mestrado ou doutorado, pode ganhar licença automática e remunerada. Mas, atenção, essas são propostas da Conae, que só vão valer (3)se entrarem no novo Plano Nacional de Educação, o PNE.

Outra proposta é a melhoria das condições de trabalho do professor e a criação de um plano de carreira específico para todos os profissionais da educação. Esse plano deve abranger piso salarial nacional, jornada em uma única instituição de ensino, com tempo destinado à formação e planejamento, e condições dignas de trabalho. 

(3) O documento final da Conae não tem força de lei, é uma indicação. Isso significa que nem todas as propostas da Conferência Nacional de Educação vão estar no novo Plano Nacional de Educação (PNE). Como o PNE precisa passar pelo Congresso Nacional, então a decisão final será dos parlamentares. 


Educação de qualidade requer controle social.
 A Conferência Nacional de Educação propõe o fortalecimento do papel dos conselhos nacional, estadual e municipal de educação. Dar mais poder a esses órgãos aumenta o controle social, já que os conselhos devem ser compostos por representantes dos trabalhadores da educação, pais, gestores, estudantes, entre outros.

Os conselhos são espaços fundamentais de participação da comunidade, que pode acompanhar a política educacional nas escolas e os financiamentos. Pelo conselho, é possível saber, por exemplo, se os recursos da educação estão sendo utilizados de forma correta. Por isso é importante participar! 

A Conferência Nacional de Educação (Conae) apoiou a criação da Lei de Responsabilidade Educacional. Assim, a exemplo da Lei de Responsabilidade Fiscal, gestores públicos poderão ser punidos se as metas relacionadas com a educação não forem cumpridas.

A Conae propôs ainda a ampliação do número de vagas nas instituições de ensino superior para estudantes de escolas públicas, com a ressalva de que deve ser respeitada a proporção de negros e indígenas. Mas, atenção, mais uma vez: todas essas mudanças só vão valer se forem incluídas e aprovadas no novo Plano Nacional de Educação, o PNE, que entra em vigor em 2011.

Você sabia que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
completou 20 anos neste mês de julho? Criado pela lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto é uma lei que complementa o artigo 227 (4) da Constituição ao criar medidas para garantir os direitos das crianças e adolescentes e protegê-los contra ameaças ou violações de seus direitos. Aproximadamente um terço da população brasileira está protegida pelo Estatuto. São os cerca de 60 milhões de meninos e meninas que têm até 18 anos incompletos.

Alguns avanços podem ser relacionados com o Estatuto, como a redução em cerca de 50% do número de crianças que trabalhavam e da mortalidade infantil. Também diminuiu o analfabetismo entre meninas e meninos, especialmente de 10 a 14 anos. Em 1990, 14% deles não sabiam ler e escrever; em 2008, a taxa baixou para menos de 3%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

(4) Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.


Pode-se dizer que em 20 anos de existência, 
o Estatuto da Criança e do Adolescente se tornou uma lei popular. É praticamente impossível encontrar um pai ou mãe que, por exemplo, não saiba que seu filho tem o direito de estudar e que se esse direito for negado, pode recorrer ao Conselho Tutelar, órgão encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança, conforme prevê o Estatuto. Nesse caso, o Conselho Tutelar intercede para garantir a vaga na escola.

E você, conhece algum menino ou menina que ainda está fora da escola? Que tal procurar convencer os familiares a matricular a criança? Afinal, educação é responsabilidade do governo e da sociedade. Se uma boa conversa com o pai, a mãe ou o responsável não resolver, uma saída é procurar o Conselho Tutelar.

Apesar dos avanços, nem todos os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente são respeitados. Houve redução do trabalho infantil, mas ele ainda existe em várias partes do País, assim como a violência sexual contra meninas e meninos. Se você conhece alguma criança vítima de abuso ou exploração sexual, denuncie! Disque 100 de qualquer lugar do Brasil. A ligação é de graça.

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